Relatos da minha escassa lucidez
Encontrava-me eu a laborar numa destas tardes húmidas de Maputo, quer dizer laborar não, a jiboiar! depois de um almoço à take–away na zona franca de Maputo, onde tudo acontece ou... acontece algo que nos vai dar o nosso tudo.
Perante aquele intervalo mínimo que todos vocês conhecem e que por ser mínimo nós o alastramos á pouco e pouco como que nem um vírus pus-me a pleitear comigo mesma em pensares meus....
Falantes os meus sentidos, deturpados os meus ouvidos e duvidosos os meus pensamentos...fui ao âmago da questão...ou seja ao princípio!
No final de contas ou desde o princípio delas ( Saramago )... quem serei eu?
Porque é que eu serei eu? Aliás, quem fui? Quem pretenderei ser eu futuramente?
Por onde galgo? A caminho de onde?Com quem vou? O que sigo? Terei eu ideais? Quais? Porquê? E até que ponto me identificarei eu com eles? Quais serão os meus objectivos? A minha filosofia de ser? De dever ser?
Será que me auto-conheço, reconheço? Terei eu virtudes? E defeitos? O que é que já fiz por mim mesma? Pelos outros? Terei eu dever de fazer isso? Que influência exerço eu em ti? Em mim mesma? Nos outros? Será positiva? Negativa? Meus ídolos? Meus heróis? Quem serão? Porque é que serão? As minhas escolhas? Serão certas? Serão erradas? Aliás o que é certo? O que é errado?
O que é isto? O que é aquilo? Porque é que estarei eu aqui, agora, neste momento a fazer o que faço? Será que existe um ser que nos transcende? Que está acima de nós meros mortais? Qual é a verdade? Aliás o que é a verdade?... a liberdade? Serás tu livre? Eu, serei livre? Ou viveremos nós uma nova tipologia de cárcere? O tal cárcere social....
Permita-me divulgar a que conclusão cheguei...
Depois de duvidar como Descartes, a tal dúvida metódica ... “Cogito Ergo Sum”...
eu só sei que nada sei!!!-Sócrates.
Ok! Sem meias palavras, amigos...aliás mesmo que não sejam... deixem-me dizer que muitos de nós vivemos sem rumo. Perdoem-me a sinceridade!!!
Começando por mim! Por tal tive um minuto de lucidez para invocar o âmago da alma e pô-lo a conversar comigo mesma. E quando ele indagou colossalmente a minha existência, com uma frota bélica de questinamentos como retro demonstrado, as respostas de minha parte foram gaguejadas, encurtadas, enroladas, revoltadas ...comigo mesma! ( estranho fenómeno ).
Reparem que a minha condição de jovem, de guerreira de uma luta que eu não conheço, nem com ela me identifico, de uma luta comigo mesma e contra um sistema que por natura transborda complexidade, que nos reporta perversidade e nos omite a veracidade, me eleva à um status de insatisfação pessoal pelas convexidades dessa ambição naturalíssima e cega ao poder que o capitalismo carrega consigo.
Diga-se ( não de passagem ), que várias são as vezes em que os heróis dessa mesma luta ao levantarem a bandeira, levantam também sua hipocrisia!
Reparem que, podem até ser divagações do meu interior, monólogos saturados, diagnósticos incorrectos, tempestade num copo de água, porém, é o que vejo e concluo.
Posso até estar errada nas minhas palavras, mas não me ofusquem o direito de dizer essas mesmas palavras ( Voltaire ).
Sabem... é que eu aqui, entrego o ouro ao bandido e me chamam de competente! Acerto em cheio, me apelidam de inteligente! Incentivo a imoralidade, aclamam e chamam-me de irreverente.
È a tal crise da moral ou efectivamente moral dos nossos dias? Reiteradamente não sei!!!
Hoje vivemos de resultados... Maquiavel...não importam os meios...eu quero chegar ao fim! E a sociedade exige isso de nós! Alguma esperteza, excessiva perspicácia, grande avareza...O estado natural de Hobbes...vale tudo!
Vocês já ouviram isto antes?...capitalismo selvagem, concorrência desleal, terra dos sem lei, dividir para reinar... A verdade é que é um vírus e afecta a todos! Não sei como chamarão este fenómeno os doutrinários das ciências sociais, porque os religiosos decerto que apelidarão “Armageddon”.
E porque as minhas andanças e respectivas bofetadas me ensinaram, permitam-me compartilhar convosco as “3 regras de ouro”:
1ª Hoje já não existe meritocracia! ( mérito)...o que conta não é o teu mérito as tuas habilitações literárias, o teu talento... o que importa é a Aproximocracia (aproximação) o que importa é tua aproximação com aquele que tem a faca e o queijo na mão.
2ª O teu país não é teu, é dos outros! Daqueles que mandam, aliás daqueles que são mandados por aqueles que têm.
3ª Fazer a diferença já não está na moda! Os mentes abertas, evoluídas ou detentores de olhos que vêem e de vozes que falam, são automaticamente excluídos porque a verdade não é conveniente nos dias de hoje! ( Senão Cardoso, Siba-siba não teriam sido brutalmente assassinados).
Sobre isto, nada mais direi!!!
Ora, já bem dizia um velho “sabedor de filosofias” que nascemos condicionados socialmente. “Nasces filho de um pai, filho de uma mãe...aliás, a ordem é ao contrário porque “pater incertus est”... irmão do teu irmão, crente de uma religião que te dão. Tu já nasces condicionado pela conjuntura familiar e social na qual és inserido.
Daí não haver muito espaço de manobra, porque tudo já se encontra definido...e quem serás tu para mudar o destino das coisas?
Isto para dizer e repisar que o sistema já está definido, maquinado e montado. Cada um garante a sua vivência, aliás sobrevivência, nas altas ou baixas marés tenebrosas em que a conjuntura actual aliada com a “crise financeira” e a “obamania” surtem seus caricatos efeitos.
Falo aqui de valores. Como sempre faço! E neste pequeno interlúdio comigo mesma facilmente concluo que os meus valores são constantemente testados pelo quotidiano que transporta consigo vicissitudes colossais de se transpor.
Desde o emprego à habitação, do reconhecimento à educação, da identidade ao patriotismo, do idioma local ao respeito pelas tradições, desde as leis aos costumes, eticetera.
A vida impõe ao jovem moçambicano um comportamento de atipicidade humana, uma evolução aleijada pelos circunstancialismos presentes, um síndroma de imunodeficiência patriótica adquirida, uma menopausa nos valores positivos ( religiosos, culturais...acima de tudo humanos!), uma contusão acelerada no galgar do desenvolvimento.
Sabes quanto custa para um jovem casar? Comprar casa? Abrir sua própria empresa?
Que políticas o beneficiam? Não! Que leis? porque leis são vinculativas.
Sabem qual é o resultado da soma destas todas questões?...= Jovem solteiro, dependente do abrigo(casa) dos pais e jovem empregado, não empreendedor!
De que adianta formar jovens que no futuro não terão oportunidade?
Mesmo que haja benefícios, os malefícios são incontornáveis. O sistema tende a criar pessoas frustradas! ( e muitos de nós culpamos DEUS!!! ).
Ademais, o sistema está bem montado, se não há oportunidade ele fornece, só tens que te aliar aos procedimentos usuais e enveredar pelo trivial...ei-la....a solução!
Aliás quando se diz que “o jovem vai vender o país”, há que concordar por um lado! Pois criaram e alimentaram seguidores que darão continuidade aos seus feitos!
E eu!, jovem, com visão, com estudo, com capacidade e possibilidades...porque não escolher o caminho mais facilitado? Aliar-me ao sistema e fazer dinheiro? Passando por cima do que for preciso para atingir os meus intentos...levantar a crista e a pose financeira e beneficiar os meus...porque não?
Ora, tudo é uma questão de escolha, é um referendo, é uma eleição... e eu voto NÃO!!!
Há que dar uma chance da verdade brilhar, há que ter o cometimento de ser humano e não animal, há que aos poucos limar as nossas hipocrisias e dar um exemplo, não aos outros, mas à nós mesmos.
Há que fazer a diferença, construir teu império com esforço, cometimento e garra, há que dar duro e interromper os malfadados “ways” de evolução e seguir em frente, nem que tenhas que enveredar pela figura do “jovem turbo”, grupo do qual faço parte...faço isto, aquilo e mais alguma coisa...mas não tiro indevidamente de ninguém.
Conclua-se que....a juventude está doente! Diagnostica-se de longe uma anomalia física visível, com efeitos internos dolorosos e degradantes, retardamento no desenvolvimento, acelerada pirâmide etária, obstrução ideológica, surdez conivente, ambição febril, egoísmo visível, pobreza extrema veemente...E perante tal estado patológico, de perigo de saúde pública e iminência de morte axiológica, quem mais senão os jovens para descobrirem os antídotos e vacinas dessa síndrome que arrasta e devasta milhões para que possam fazer o diagnóstico precoce e orientar o desenvolvimento desta que fora a dita Canaã- terra prometida?
Nkosikazi aka Iveth