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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

“...Manos e manas,

Quando a comunicação social anunciou o recorde do preço do barril de petróleo, já se adivinhava uma nova subida do preço do combustível no nosso país o que causaria um agravamento de preços de produtos básicos. A seguir a comunicação social veio e confirmou os receios de todos nós, o combustível ia subir, o pão ia subir, e pior que tudo isso... o chapa ia igualmente subir, ora... ninguém estava a espera desta, talvez porque fosse inconsebível para um moçambicano que ganha o que ganha pensar sequer na hipótese do chapa subir. Bem..., o chapa ia subir mas discutia-se ainda para quanto ( o governo e os transportadores), as propostas eram tão absurdas que ou preucupavam-nos muito ou faziam-nos rir, veja-se esta: de 5Mt à 7.5Mt para14.5Mt à 19Mt se não estou em erro, uma subida na ordem de mais de 100%... he he he.. eramos nós a rirmo-nos da vida ou a vida a rir-se de nós.

Depois do tal braço de ferro entre os chapeiros e o governo, chegou-se a marca de 7.5Mt à 10Mt ( bem, há quem diga que aquelas propostas absurdas eram só para o governo se fazer passar por heroi baixando tudo aquilo...bocas!). Estavamos nas vésparas do fim de semana longo do Dia dos Heróis, e devido a tranquilidade que se vivia(embora alguns depoimentos que passavam na TV indicarem um desespero do povo) pensava-se: ou as pessoas conformaram-se, ou estão tão desnorteadas que nem sabem que fazer.

Na segunda-feira dia 4, circulavam algumas sms sobre uma possível greve no dia seguinte, dia em que entrava em vigor a nova tarifa, mas...duvido que se tenha levado à sério dada a passividade que nos é característica. Terça-feira dia 5, pela manhã, estava eu fora de casa a fazer os meus exercícios matinais quando começei a ouvir rumores duma greve que estava a acontecer na periferia... será?...recebia varias sms que reportavam o mesmo, e só quando o meu companheiro Keleza ligou-me a dizer que estava a presenciar a confusão, é que eu me dei conta da seriedade do assunto. Diziam que estava a ser transmitido em directo pela TV, nem mais...corri de imediato para casa e pelo caminho (na zona da baixa) notei um certo alvoroço nas ruas e...sim senhora! Estava a acontecer mesmo, o povo se rebelava contra a nova tarifa, aquilo foi o que se viu, nenhum chapa estava autorizado a circular e eu mesmo presenciei um deles a ser apedrejado pelo povo. Coisa igual há muito que não se via, lembro-me de algo pior no ano de 1992 se não me falha a memória e pelo mesmo motivo, o povo literalmente destruiu a cidade.

O povo queria destruir tudo que fosse sinónimo de riqueza e bem estar, carros, lojas, bancos, e não escaparam as bombas de gasolina e padarias. Grande cagaço...o pessoal da classe média e alta nem punha o nariz fora de casa, o povão estava dicidido. O governo reagiu de forma cobarde, mandou os seus cães de guarda, a nossa famosa policia que foi lá e fez o que melhor sabe fazer, vilolentou o povo, tiros para o ar com balas de borracha para disperçar o povo rebelde...tiros para o ar? Balas de borracha só? Bem, o que se sabe é que houve vitimas mortais desses tiros, quem paga? Isso é outra história. E por aí à fora...não quero aqui fazer um rescaldo, era só para lembrar.

Agora, o que me fez escrever este texto é facto de eu ter feito uma música sobre estes acontecimentos e a coragem heróica do povo. Povo...afinal quem é o povo? Sabe... eu que julgava saber muito bem a resposta para esta pergunta, confesso que na terça-feira fiquei em dúvida, isto porquê...ora vejamos: ouvi muita gente conhecida a dizer que o povo está fazer greve mas com uma expressão de claro distanciamento, curiosamenete esse discurso vinha de pessoas da classe média e alta que provavelmente não se encomodavam assim tanto com a subida dos chapas...perdoem-me se me engano. Eu penso que se dependesse da classe média não haveria greve nenhuma, reclamariamos sim nos corredores do serviço, nos murros dos prédios, na segurança dos nossos lares mas não passaria disso. E foi enjoado com essa apatia que liguei para o Keleza e disse-lhe claramente que nós tinhamos que nos manifestar, mostrar a nossa posição, afinal de contas somos povo não somos?! Para a minha felicidade e conforto ele concordou imediatamente, nós como artistas também somos povo e temos que mostrar a nossa posição perante este problema que também é nosso, estavamos no momento cheios de emoção mas vazios de estratégias, mas iamos pensar...surgiu à tardinha a ideia de convocarmos outros artistas e nos dirigirmos a imprensa, aproveitariamos a conferência de imprensa que seria dada pelo governo naquela tarde, mas depois achamos melhor esperar pelo pronunciamento do governo para reagirmos, o Joe votou para esta posição e ficamos à espera, mas nunca mais se ouvia algo da comunicação social, o que só veio a acontecer à noite na hora do telejornal.

Durante a manhã e a tarde eu recebia varias mensagens de pessoas a pedirem-me para escrever uma música sobre a greve, ligaram-me outras a dizerem que eu já devia ter preparado uma bomba para a ocasião, mas eu à principio não queria ser o ladrão feito pela ocasião e quase que nem considerei essa hipótese, pensava para mim que seria demasiado óbvio, inclusive o meu companheiro Izlo fez o mesmo comentário, que o tema cansaria as pessoas...política e mais política. Estava convencido de que não ia escrever nada sobre o assunto até que vendo o tempo passar e confrontado com a triste realidade de ninguém para além do povo da periferia se “pronunciar” sobre o assunto, decidi começar a rabiscar qualquer coisa só para libertar o desejo de me manifestar. Não estava certo se gravava aquilo...estava puro, vinha do fundo meu coração mas...receava ser demasiado óbvio e previsível...QUE SE LIXE A PREVISIBILIDAE!!!!!!! Eu é que não vou ficar alheio a isto, pensem o que quiserem pensar, chamem-me os nomes que me chamar, oportunista, comercial, o rapaz dos desabafos ou sei lá o quê! Mas antes de me apelidarem, perguntem-se onde voçês estavam, o que estiveram voçês a fazer quando o povo da periferia estava a manifestar-se. A greve resultou, mas não resultou apenas para os que arriscaram as suas vidas nas ruas, resultou também para ti que estavas a curtir o fim de semana que se prolongou, tu que estavas a fazer piadas sobre os que se entregavam de corpo e alma à luta, tu também vais pagar 5Mt e 7.5Mt no chapa e não 7.5Mt e 10Mts, e de certeza vais poupar um pouco mais e vais respirar de alívio. As várias associações da sociedade civil não mostraram a sua posição, os músicos, os escritores, e todos que seriam afectados directa ou indirectamente pela subida dos chapas. Detestei essa falta de organização nossa, esse distanciamento, podiamos ter feito mais, podiamos ao menos ter sido mais solidários e mostrado a nossa união. Eu fiz humildemente esta música para mostrar a minha solidariedade, podia ter feito mais reconheço, mas cada um na sua frente. Eu uso a música para lutar e tu??

Povo no poder” é uma música de celebração do poder do povo, júbilo e glória, quero dedicá-la em especial aos que perderam a vida nesta greve vítimas da nossa polícia, esses para mim são verdadeiros heróis, dignos de repousarem na cripta dos nossos corações, com a chama sempre acesa. POVO NO PODER!!!!...”.

Por: Azagaia

5 comentários:

Anônimo disse...

Pois eh, sempre digo que os revolucionarios de ontem tornam-se conservadores um dia apos a revolucao ... nao precisamos ler, ou ser contados para acreditar, os nossos politicos (alguns deles digo) que eram revolucionarios natos ontem, lutaram duro, nao vacilaram, ariscaram suas vidas pela vida do "povo", pela liberdade do "povo" ... hoje mudaram seus discursos, ja nao ha povo mas sim populacao, nada mais que um instrumento estatistico, nao somos nada mais que um numero ... sim mudaram o discurso, ja nao existem revolucionarios, afinal a revolucao acabou, sao todos reaccionarios, sim Azagaia, tens que mudar o discurso, apelidam-t reaccionario, tal como Uria e muitos outros ... Eu nego, faco parte do povo, tenho sentimos, necessidades e limitacoes, tenho sonhos, sou parte do povo ... Samora disse que em Mocambique nao ha espaco para exploracao, nem de branco para preto, nem de preto para preto ... foram-se os brancos, e ganhamos burgueses brancos ... Na ultima pronunciacao publica de Mandela antes de ser sujeito a prisao, ele disse que lutaria contra a agressao branca e negra.
Eu lutarei contra a exploracao mocambicana e estrangeira ... Keep on Azagaia, pork a ti ninguem t para, se fores um Kamikhazi ficas um Martyr ... por outras ficas um conservador, afinal a revolucao ja acabou
"COM FOME MAIS LIVRES" Marcelino dos Santos (ha muito, muito tempo quando os macacos escreviam, ele ja nem se recorda)

Laude Guiry

Anônimo disse...

ya o povo tal como eu ta farto de politices pois enquanto o povo chora o governo engorda sei la com o que mas desta vez a uniao foi mais forte e la se baixou a tarifa mais nao disse.
claus

Anônimo disse...

Os meus olhos testemunharam o que a minha mente não imaginava, pensava que o povo é sólido, aceita tudo que este governo diz e ordena, eu pensava que o povo só lamentava dentro de si. E felizmente eu soube que estava enganado. Soube também que tudo que disse, pensava e imaginava era mentira. E que nós podemos transformar uma simples planta numa árvore gigantesca em um dia. Com tantas novelas, tantos programas vazios que só servem para tapar os ouvidos das pessoas nunca me passava pela cabeça o que eu vi naquele dia. Senti orgulho de ser moçambicano e caminhar ao lado dos meus irmãos de verdade, para lutar contra os que dizem que querem o nosso bem, avançar em direção a aqueles que nos querem explorar. Eu caminhei, fiquei horas, quemei com o sol, mas não sentia nenhuma dor, o meu suor não era de cansaço de andar, mas suor de tanto aguentar mentiras, discursos enganadores, fiquei cansado de gastar os meus ouvidos ouvindo meia dúzia de ministros a mentir, o que eles sabem fazer. Boa azagaia pela música. Queface

Jorge Saiete disse...

Apenas para te dar os meus parabens pelo teu envolvimento civico. Os que se manifestaram no dia 5 s�o honestos compatriotas nossos. Manifestar-se n�o � nenhuma ilegalidade pois a nossa constitui�o o permite. O que eu acho que � errado, ilegal e que devemos repudiar � a vandaliza�o de bens e propriedades alheias. Creio ser dever de cada um de n�s, defender uma consci�ncia c�vica responsavel. Abra�o

Anônimo disse...

Pois é. Esta feita a música, Nos manifestamos, fomos arruaceiros, e daí?

Com todo o respeito ao todos, e consideração ao autor dessas lindas e revolucionárias frases, deixe-me dizer que com as nossas atitudes fomos pura e simplesmente baixos. O que é que os cidadãos que o AZAGAIA considerou de classe média e alta têm a ver com o aumento do preço do combustível? Uma pergunta para ti AZAGAIA, já te imaginaste a poupares uma pipa de mola durante algum tempo para comprares um "dubaizinho, ou um toyotinha" que te leve a faculdade ou a um emprego e logo de seguida partem-te o carro? Já? vai dizer, com um tom sarcástico, que a pessoa estava no lugar errado na hora errada, não é Azagaia?

Olha é ridículo pensarmos que o povo está apenas na periféria. Mais ainda, é um absurdo exaltar actos de vandalidade como o fazer. Se calhar irás dizer que uma revolução
faz-se com violência...Se calhar.

Todos nós conhecemos o gabinete do conselho de ministro onde por acaso estava reunido o Governo naquele dia. porque não fomos para lá? Todos nós conhecemos o Ministério dos Transportes e comunicações, porque não fomos para lá? Conhecemos outras instituições que estavam directamente ligadas ao assunto, porque não fomos para lá?

Azagaia, admiro a sua coragem e incentivo a continuares, mas não vai por ai. Violência, as vezes é preciso (lembro das palavras do eterno líder Samora Machel quando dizia, as vezes é preciso abanar a árvore para que o fruto podre caia), mas saibamos identifcar os alvos. Mais ainda Azagaia, há vezes que podes aproveitar o facto de seres ouvido por massas para críticar-lhes.

Mais não disse,


Bantthu