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quarta-feira, 21 de novembro de 2007

IMPRENSA: Jornal Noticias

Azagaia no Jornal Noticias

No Caderno Cultural do Jornal Noticias de hoje Quarta-Feira, 21 de Novembro de 2007, na rubrica "IDEIAS", trás um artigo sobre o rapper AZAGAIA assinado pelo Pratricio Langa. Eu ainda não tive oportunidade de ler o referido artigo, mas vim por em primeiro mão aqui no blog, para que vocês podessem ler e comentar.

Se houver necessidade nos próximos dias faremos um comentário em volta desse artigo. fiquem atentos.

Agora, atenção ao artigo abaixo, leiam e deixem o vosso comentário!!!


“AS VERDADES DA MENTIRA”: Do senso comum ao eclipse da razão (1)

Edson da Luz, Azagaia de nome artístico, é um jovem moçambicano, quanto a mim, com faculdade para se afirmar na arte de escrever letras, compor e interpretar música do género hip hop ou simplesmente RAP. Hip hop é um estilo de música popular cujas origens nos remetem para os meios socialmente desfavorecidos, i.e. guetos maioritariamente negros dos Estados Unidos da América. A combinação do ritmo, rima poética, e palavreado ao som de batidas (beats) musicais emprestou-lhe o nome de música RAP. Aos rappers normalmente chama-se-lhes MCs. Na verdade, o MC (Master of Ceremonies) refere-se ao mestre de cerimónia que introduz o DJ (Disc Joker) que vai animar a plateia com a mistura de ritmos, rima poética e canto (voz). Enfim, não pretendo fazer a história da origem do hip hop, aqui. Há elementos que não interessa aprofundar para aquilo que são os propósitos deste artigo. Interessa-me, no entanto, referir a uma característica peculiar do hip hop: a crítica social e/ou intervenção social! O hip hop é uma música de intervenção social, isto é, uma música cujo conteúdo das letras procura desnudar as diversas situações de injustiça social e expor os demais problemas sociais que afectam principalmente as minorias étnicas nos EUA, em particular os afro-americanos. Esta característica não é universal entre os rappers. Como qualquer movimento cultural o hip hop tem várias correntes, ramificações e produziu até sub-culturas. Por exemplo, a sub-cultura do gangstarismo que mais se popularizou pelos efeitos comerciais que gerou, pela vida luxuosa, material, que proporcionou a alguns de seus interpretes, pela “cultura de violência”, entre outras coisas e pela reacção crítica que a sociedade lançou aos gangsta rap. Este último é um tipo de Rap que remete para um estilo de vida que reclamou a vida de muitos jovens, principalmente, negros americanos e que têm como um dos seus ícones o legendário Tupac Amaru Shakur[1] (1971-1996). 2pac morreu, com apenas 25 anos de idade, crivado de balas. Aqui também não interessa aprofundar estas histórias que até são marginais ao assunto. Devo apenas referir que o hip hop, nas suas diversas sub-culturas, universalizou-se, para não dizer globalizou-se, e em cada contexto foi adquirido características sui-generis desses lugares.

Bom, qual é o propósito, então, de vos contar um pouco da história do hip hop? Pretendo, simplesmente, sugerir uma reflexão geral sobre o sentido – dito “crítico” – da música de Azagaia. Em outras palavras, quero levantar questões sobre a realidade a que a música de Azagaia nos dá acesso, ou se quiserem questiona. Que realidade descreve e como faz essa descrição? É uma maneira razoável de nos apresentar uma leitura da realidade, digamos, político-social do nosso país? Estamos de acordo com os termos da leitura? Descreve e documenta essa realidade da “melhor” maneira possível? As conclusões talvez sejam o menos interessante debater, mas como se seja a essas conclusões parece um aspecto fundamental que a nossa espera pública não devia descurar. Azagaia, nas suas músicas, sugere que a realidade política e social do nosso país apresenta-se de um certa maneira. Concordamos com essa descrição? É sobre isso que este artigo trata.

REALIDADE VS. CONHECIMENTO DA REALIDADE DO PAÍS

Sem grandes recursos teóricos, e de forma algo leiga e bem generalista, gostaria de sugerir que existe:

a) por um lado, a realidade (social) do país e;

b) por outro lado, o conhecimento da realidade (social) do país.

Tanto uma como outra são em parte produto das nossas acções, portanto passíveis de tomarem forma e conteúdo possíveis e ainda não realizados. Quer dizer, a realidade do nosso país e o conhecimento dessa realidade podem estar sujeitos a nossa intervenção para tomarem formas e conteúdos específicos. O espaço público, a política, através do debate de ideias, é onde nós podemos negociar – democraticamente, em princípio – os vários futuros possíveis e “desejáveis”. O debate de ideias é, portanto, constitutivo e constituinte da sociedade que fomos, somos e podemos vir a ser. Podemos dizer, então e hipoteticamente, que em função da abertura que tive(r)mos para o debate de ideia fomos e podemos ser uma sociedade autoritária (fechada) ou democrática (aberta), para colocar as coisas entre extremos. O desafio que se nos coloca todos os dias é saber para que lado tendemos e queremos tender. Como e o que fazemos para evitar os inimigos da sociedade aberta, se esta for o nosso desiderato. De novo o próprio debate é chamado como instrumento não só para medir essa tendência, como para destruir os inimigos da sociedade aberta. Tudo isto é para dizer que enquanto sociedade temos que saber debater. Debater, aqui, significa saber avaliar argumentos. O conhecimento que temos da realidade do nosso país depende, portanto, fundamentalmente, da capacidade que temos de avaliar argumentos nas suas diversas maneiras de se apresentar. Se nos dizem, por exemplo, que o nosso país é pobre. Estão basicamente a oferecer-nos uma conclusão. Para sabermos se essa conclusão é plausível temos que avaliar as razões (premissas) que se nos oferecem para tirar tal conclusão (voltarei a este assunto mais adiante). Não podemos é a aceitar que nos digam é pobre porque é pobre e pronto! A maneira como avaliamos esta conclusão e suas premissas vai nos dizer muito sobre o que sabemos do nosso país. Podemos então questionarmo-nos sobre os modos de produção de conhecimento dessa realidade e sobre a validade do conhecimento que produzimos.

Neste sentido “verdade” ou conhecimento verdadeiro seria aquele conhecimento que apresentasse razões plausíveis para as conclusões que descrevem o estado do nosso país. Quanto mais fidedignas as razões (premissas) mas fortes as conclusões e o conhecimento que temos do país. O conhecimento seria, portanto, apenas a representação dessa realidade. Podemos imaginar que o trabalho de buscar representações fiéis, conhecimento “verdadeiro”, do país, isto é, o mais próximo possível da realidade “real” deve ser penoso pelo tempo, recursos que requer e, não só, como pela própria complexidade dos fenómenos que fazem essa realidade.

Pessoas sem tempo e as vezes sem recursos, grosso modo, aceitam as conclusões, i.é, as representações da realidade do país que se lhes apresentam sem questionar as premissas que sustentam essas conclusões. E depois há daquelas coisas que mesmo não sabendo não impedem que a gente leve uma vida normal. Há mais de 20 anos que não sabemos se o primeiro presidente morreu assassinado ou se o acidente foi mesmo acidente e nem por isso deixamos de viver. Há pessoas que se especializam na busca de explicações para as diferentes dúvidas que temos de vários fenómenos que fazem – e ocorrem n(a) - nossa sociedade. Os cientistas, por exemplo, de modo geral, são os especialistas que se ocupam da produção dessas representações aproximativas da realidade. São avaliadores de premissas. Mas os cientistas não são os únicos, existem outros com diferentes níveis de especialidade.

Os músicos, por exemplo, também interpretam a realidade para aqueles que não têm muito tempo e paciência para tal. Quer dizer, procuram nas suas músicas formular perguntas e dar respostas, de forma artística, que nos dizem como é a realidade. E alguns de nós servimo-nos desse conhecimento para orientar nossas acções. A pergunta que se pode colocar é: até que ponto estamos satisfeitos com o rigor do conhecimento que algumas leituras (musicais) nos apresentam da nossa realidade? As conclusões, interpretativas, a que essas leituras de como a realidade se apresenta são plausíveis para podermos orientar nossas acções a partir delas? As premissas sob as quais assentam essas conclusões não são discutíveis? Questionáveis? Que estatuto essa descrição da realidade reclama? É o estatuto que lhe compete? Enfim, vamos pensar sobre algumas destas questões a partir das letras das músicas de Azagaia. Atenção! A intenção, fique claro, não é avaliar o mérito e a criatividade artística de Azagaia que para isso não tenho competência. Quem fizer isso, fá-lo por conta e risco próprio. A intenção é olhar para a música de Azagaia como um artefacto da nossa sociedade, uma representação da realidade e que, por isso, pode ser analisado, estudado independentemente das motivações. Que realidade e que conhecimento da realidade do país as músicas de Azagaia nos proporcionam?

A VERDADE DAS MENTIRAS

“As mentiras da verdade” foi a primeira música de Azagaia. Fez e ainda faz muito sucesso de audiência. Recentemente, Azagaia, voltou à carga com uma segunda música, “A Marcha”, que também está arrastar multidões. Na efervescência do sucesso Azagaia lançou, a 10 de Novembro, o seu primeiro álbum, “Babalaze” (ressaca, traduzido para o português). Não me parece que por detrás do sucesso de Azagaia esteja apenas o facto de cantar o hip hop. Nesse género musical muitos outros jovens cantores já o haviam antecedido. Com um aderência massiva, a música de Azagaia surge pelo conteúdo forte, diga-se pelas conclusões fortes, das suas mensagens.

Um conteúdo que aos ouvidos de muitos é de intervenção e crítica social. Azagaia é, portanto, visto como aquele jovem músico que diz a “verdade” tal e qual ela é. Desnuda-a! E como essa “verdade”, alguns acham, não é conveniente para um sector da sociedade moçambicana, revelá-la publicamente, e de forma desinibida através do rap, torna-se um acto de “coragem”. Na verdade, Azagaia, como ele próprio reconhece, não inventa nada do que diz, apenas faz eco daquilo que as pessoas dizem nas esquinas e corredores, portanto, ao conhecimento popular. Aquele conhecimento daqueles que não têm tempo nem paciência para conviver com a dúvida enquanto avaliam as premissas. É um conhecimento do senso comum, portanto, apriorístico, intuitivo, assistemático. Na verdade, é um não-conhecimento, ou melhor é desconhecimento. Azagaia não faz perguntas, dá respostas. E as respostas que nos oferece, não são respostas novas. São respostas que já eram do domínio de toda gente, do senso comum. São essas respostas que estão a reclamar, agora que ritmadas, um estatuto diferente. O estatuto de verdade! Azagaia é aquele jovem cujas músicas nos dizem “verdades”, é assim que muitos o retratam! A sua atitude, portanto, é de intervenção e crítica social, consideram. Uma critica social que é vista como um acto corajoso, asseveram. Este artigo questiona esse estatuto de “verdade” das músicas de Azagaia. Até que ponto as suas respostas, as conclusões, são baseadas em premissas plausíveis, fidedignas? O que é, mesmo, música de intervenção social e/ou crítica social? Que características temos que lhes reconhecer para a consideramos como tal? O que está a ser analisado é o que faz do conteúdo da música de Azagaia crítica social e reveladora da “verdade”!

  • PATRÍCIO LANGA*
Poderão confirmar esse artigo nesse link “AS VERDADES DA MENTIRA”: Do senso comum ao eclipse da razão (1), ou ainda adquirir esse jornal nas bancas habituais.

Outro artigo anteriormente publicado por esse jornal sobre o rapper aqui...
Crítica social e desabafo.



6 comentários:

Anônimo disse...

Existem aki alguns pontos interressantes de se analisar...um outro nivel de analise ao k se canta nas musicas...vamos ler né.


Afonso brown

Anônimo disse...

O Sr. Patricio Langa, falou, questionou e respondeu ao mesmo tempoos pontos que ele proprio levantou.

Entao, se a musica de Azagaia esta ou nao baseada em factos comprovados na pratica, isso pouco nos interessa, o que mais nos interessa no meu ver, e que as musicas desse jovem refletem exatamente o senso comum do povo mocambicano, portanto, o que antes era comentado em casa, nas esquinas e etc, o que pa muitos levanta duvida, questoes, e hoje e tratado de uma forma aberta, sem medo de censura ou represalias de quem quer que seja. A musica do Azagaia convida a todos, os que ja "sabiam" e os que "nao sabiam" a reflectir sobre os temas/assuntos socio-politicos.

Sera que precisa de premissas para falar do caos que foi o Paiol para o povo mocambicano....???

Sr. Patricio, vai dizer ao seu chefe para atacar de outra forma...

Obrigado, Gazy.

Magus DeLirio disse...

Li o artigo no suplemento cultural do Noticias, ontem, e espero o desfecho pra tecer o meu comentario final. Agora se me permitem desviar o papo, convido-os para o meu blog pra dizerem o que acham sobre o music sampling ou semplagem musical

Paz!

Anônimo disse...

Jorga Gazy, entao o Azagaia nao e tao bom assim como o pintam. Pelo que dizes, mesmo eu seria bom se aparecesse amanha a cantar qualquer coisa das que se dizem ai fora... é isso que querem fazer do Azagaia?

Ela está numa linha fantástica e pode melhorar. Tudo o que o Patricio diz é que o Azagaia para ser o critico social tem que ir para alem dos boatos ou do que se diz por ai.

Tem que aprofundar os seus temas. Quando Jorga Gazy diz o que diz nao esta a contribuir para que o Azagaia cresça.

Se queremos um Azagaia ao nível do Valete (sem o conteúdo explícito claro) entao temos que ter outra atitude para com ele. Mais do que dizer que ele é bom repper temos que lhe dizer, como faz Patrício, que ele NAO E UM CRITICO SOCIAL.

Martin

Danilo Nhaca disse...

Vamos lá com calma pessoal, li o artigo do Sr. Patrício Langa e decerta forma temos que concordar com ele. Não quero com isso dizer que o Azagaia não é como se calhar tentou nos mostrar o Sr. Patrício Langa um crítico social mas sim eco do povo. A verdade é que devemos exigir mais atitude por parte dos nossos artistas, mais reflexão e mais lógica nas suas letras e quanto a esses aspectos acho que o Azagaia esta no caminho certo.
Então pergunto, não sera essa uma das formas de crítica social? Questionar o k esta errado ou pelo menos o que o povo acha que esta errado?
Não posso me aventurar em mais comentários porque ainda não tive a oportunidade de analizar todas a letras do novo albúm mas pelas poucas que pudi ouvir e analizar parece-me que este é dos poucos artistas que se aventura em expressar seus sentimentos e dos demais patrícios (conteranios) de forma ritmada e agradável de se ouvir.
Mas exigimos mais... e mais reflexões.

Bem Haja ao Hip Hop Nacional!

Anônimo disse...

-Se queremos um Azagaia ao nível do Valete (sem o conteúdo explícito claro)-

Axo k nao precisamos de ter um Azagaia , nem qqr outro rapper nacional ao nivel dum Valete ,pois, acredito k a musica de Azagaia tem mais imapacto aqui em Moçambique dq o impacto que a musica do Valete tem em Portugal,...pois nao acredito k a midia portuguesa fale do Valete como a nossa fala do Azagaia...mas claro sao duas realidades diferentes né. para a nossa realidade precisamos apenas de rappers e Azagaias ao nivel daquilo que o nosso pais precisa...Fotografias reais de e soluxoes reais para Moçambique.
Axo que alguns pontos do Patricio Langa sao interressantes de se analisar para quem pretende desenvolver uma musica de critica social...que haja mais Azagaias pra
pq o pais precisa e mais Patricios Langas pk os conteudos das letras tb precisam.


Afonso Brown